Nesta nova edição do Boletim decidimos convidar pessoas ilustres que conhecem bem a Freguesia de Estrela. Ninguém previa o que estava para acontecer e já a Mafalda Mello e Castro partilhava connosco a sua opinião sobre importância da solidariedade e do cuidado para com o outro.
Dar a alguém é sempre devolvido em dobro
A distração leva à indiferença, a indiferença afasta e isola.
A atenção, ao outro, leva ao encontro, o encontro leva ao amor, o amor une e reconstrói.
A primeira é morte, o amor é vida. E por mais que se tenha e por mais que se dê, nada toca nem transforma como o amor. Não há verdadeira alegria fora do amor, porque a alegria é fruto do amor.
Havendo amor, há um sentido para tantas vidas quantas o amor tocar. Por isso, se eu não estiver atenta, corro o risco de condenar alguém a mais tempo de solidão, a começar por mim.
Se eu me dispuser a viver com amor, o risco que corro é de enriquecer a vida de alguém. Apenas tenho de estar atenta, sair de mim e abrir-me ao encontro.
E esse encontro pode começar num sorriso porque esse sorriso pode tocar o coração de alguém. Tem a força para mudar, como qualquer gesto feito com amor.
Na vida do Centro Social e Paroquial São Francisco de Paula assisto todos os dias ao milagre dos mais pequenos gestos de amor despertarem vida em alguém. Na cozinha, no Jardim de Infância, no Apoio Domiciliário, nos Almoços d’Encontro, na gestão do Centro… Seja a descascar batatas e a fazer almoço, no banho a um idoso, a lavar a casa de banho, a formar e acompanhar uma criança, no carro que transporta pessoas, na contabilidade que se organiza, nos almoços que servimos, no cobertor que damos, no enxoval que preparamos ou na distribuição de cabazes para famílias carenciadas. Todos os dias por amor a cada pessoa que um dia, de um encontro, ficou nas nossas vidas.
E o que mais importa não são os salários baixos e os subsídios que podem não chegar, é a vida de uma pessoa que antes do Centro queria morrer, mas agora é feliz.
Não são as horas a mais que tem de se dar, é saber que aquela senhora não vai ficar estendida e despida, suja e sozinha no chão.
Não são os cortes e faltas de apoios, é saber que o senhor Francisco voltou a sorrir e a encontrar sentido de vida, no carinho que conseguimos dar.
O sentido da vida de cada idoso e pessoa que servimos e acolhemos é o sentido da nossa vida. Mas só o é se soubermos também amar as suas histórias, os seus sacrifícios calados, que nos falam de resiliência, as suas dores oferecidas, que nos falam de superação, a sua generosidade, que nos fala de altruísmo, a sua fé profunda no Deus das mais pequenas coisas, quando nos fala de humildade, esperança e gratidão.
Com o Meu Mais Próximo e com o objetivo de levar à comunidade a realidade das pessoas que o Centro apoia. Com o intuito de fazer melhor e chegar a mais, esse amor cresce, em cadeia, nas e das pessoas a quem pedimos e se deixam tocar. Essas pessoas dão e dão-se, por isso tocam-nos também pela generosidade do donativo, pela visita e ajuda no Centro ou a alguém que não sai de casa porque vive isolado, pelo cuidado em sinalizar, pelo pão que oferecem. A vida (re)nasce e contagia e o amor circula de pessoa em pessoa, de rua em rua, como o sangue nas artérias, derrubando muros, unindo, combatendo a pobreza e solidão.
É um privilégio fazer parte deste “corpo”, e saber que trabalhamos em comunidade, com as famílias, com o comércio, em coordenação com as outras instituições, num espírito de respeito e de interajuda, e com a confiança e colaboração ativa e eficaz da Junta de Freguesia, sensível a quem sofre e precisa, pronta na resposta porque as pessoas que lá trabalham importam-se e empenham-se e o Presidente capacita para que ninguém fique na periferia.
É um privilégio assistir todos os dias ao milagre dos mais pequenos gestos de amor despertarem vida em alguém...
A proximidade e a atenção para com o outro é cada vez mais urgente. O que une a realidade à ficção é que na Junta de Freguesia de Estrela continuamos aqui a trabalhar para si. Juntos vamos ficar bem.